Por quanto vendo minha arte? Guia do Ilustrador

Decidiu viver de desenhos, investiu em cursos, materiais, se profissionalizou, até que recebeu a primeira encomenda e agora não sabe quanto cobrar. Essa cena parece familiar?

Isso é mais comum do que parece. Além do dilema de quais materiais investir no início, há também a questão da precificação. Saber quanto cobrar pelos seus desenhos é uma dúvida recorrente para quem está começando a transformar o talento artístico em uma fonte de renda.

Para quem decidiu monetizar sua arte e quer entender melhor como definir valores, aqui está um guia prático que ajudará a chegar a um preço justo e sustentável.

Quanto Vale o Meu Tempo?

Essa deve ser a primeira pergunta ao definir o valor do seu trabalho. Diferente de produtos físicos, que possuem um custo de produção mais objetivo, o preço de um desenho pode variar conforme a complexidade da arte, a experiência do artista e o tempo dedicado à criação.

Um método eficiente para começar a precificar é calcular quanto vale a sua hora de trabalho. Isso ajuda a criar uma base para definir valores e garantir que cada desenho seja remunerado de maneira justa.

Não existe um valor fixo, pois cada artista tem custos diferentes e trabalha com níveis variados de detalhamento. O que pode ser feito é estabelecer um ponto de partida, considerando suas despesas, objetivos financeiros e o tempo necessário para cada projeto.

Como Definir o Preço do Meu Trabalho

O primeiro passo para encontrar o valor ideal é entender o próprio processo de criação. Para um desenho simples, com acabamento mais rápido, o tempo de produção será menor do que para um trabalho altamente detalhado. Além disso, é importante considerar se a ilustração será uma fonte principal de renda ou apenas um complemento financeiro.

Uma fórmula prática para calcular o valor da hora trabalhada é:

Valor da Hora = (Lucro líquido desejado + Custos operacionais) ÷ Horas trabalhadas no mês

Se um artista trabalha 160 horas por mês (8 horas diárias, 20 dias no mês), tem um custo operacional de R$ 1.000 e deseja um lucro líquido de R$ 5.000, a conta será:

(5.000 + 1.000) ÷ 160 = R$ 37,50 por hora

Com esse valor, fica mais fácil definir o preço de um desenho com base no tempo estimado para concluí-lo. Esse cálculo serve como referência, podendo ser ajustado conforme a demanda e o tipo de cliente.

Diferença Entre Valor de Produção e Valor Comercial

O valor de produção envolve todos os custos necessários para a criação da arte. Isso inclui materiais, energia elétrica, internet, aluguel de espaço (caso tenha), além do tempo investido em aprimoramento profissional, como cursos e especializações.

O valor comercial, por outro lado, está relacionado ao uso que será feito da ilustração. Quando um desenho é utilizado para vender ou promover algo, ele ganha um peso comercial, e o preço deve refletir isso.

Para entender melhor essa diferença, basta comparar um retrato encomendado para presente com uma ilustração desenvolvida para uma campanha publicitária. No primeiro caso, o valor se baseia no tempo e nos custos da produção. No segundo, a arte tem um impacto financeiro para o cliente e precisa ser precificada considerando essa dimensão.

Em projetos editoriais, por exemplo, o valor pode variar de acordo com o tamanho e o posicionamento da ilustração no material. Ilustrações de capa geralmente custam mais do que imagens internas.

Quando o cliente é uma agência de publicidade, editora ou empresa, faz sentido aplicar um valor adicional pelos direitos de comercialização da arte. Para clientes particulares, que encomendam ilustrações para uso pessoal, esse custo extra não se aplica.

Como Calcular o Valor da Sua Hora de Trabalho

Para evitar prejuízos, é essencial definir um valor mínimo para a hora de trabalho. Sem essa base, corre-se o risco de aceitar trabalhos que não cobrem nem mesmo os custos básicos.

O primeiro passo é listar todas as despesas pessoais e profissionais mensais, incluindo moradia, alimentação, contas de consumo e materiais de trabalho. Além disso, um profissional autônomo precisa se planejar para períodos sem demanda e reservar um valor para imprevistos ou investimentos futuros.

Se um artista deseja ter uma reserva para férias e metas de longo prazo, esse valor deve ser diluído ao longo do ano e incluído no cálculo da hora trabalhada.

A fórmula básica seria:

(Despesas mensais + Reserva para férias + Lucro planejado) ÷ Horas trabalhadas no mês

Se o total de despesas e reservas for R$ 3.700 e o artista trabalhar 160 horas no mês, o valor mínimo da hora de trabalho será de aproximadamente R$ 28.

Esse cálculo garante que nenhum orçamento fique abaixo do necessário para manter a sustentabilidade financeira. No entanto, ele não deve ser o único critério para definir preços, já que outros fatores influenciam a precificação final.

Analisando o Cliente e a Proposta

Além dos custos e do tempo de produção, é preciso considerar o perfil do cliente e o propósito da ilustração. Trabalhos encomendados por grandes empresas, editoras e agências possuem valores tabelados no mercado, enquanto encomendas para pessoas físicas podem seguir uma lógica diferente.

Para clientes comerciais, recomenda-se verificar tabelas de referência, como as da SIB (Sociedade dos Ilustradores do Brasil) e da Adegraf. Essas tabelas ajudam a evitar preços incompatíveis com o mercado.

Já para trabalhos mais personalizados, como ilustrações para presentes ou decoração, o valor pode ser baseado no tempo de produção e no custo do material, seguindo a base calculada para a hora trabalhada.

Outro fator a ser considerado é o prazo. Se um desenho precisa ser entregue em tempo reduzido, isso pode justificar um valor maior. Trabalhos urgentes geralmente exigem mais dedicação e podem comprometer a agenda de outros projetos.

Como Ajustar os Preços Conforme o Mercado

Um bom ponto de partida para ajustar os preços é observar o valor cobrado por outros artistas que atuam no mesmo segmento. Se os concorrentes cobram valores mais altos e os clientes pagam por isso, pode ser um sinal de que há espaço para reajustar os próprios preços.

Isso não significa copiar os valores do mercado, mas sim entender a percepção de valor da clientela e ajustar os preços conforme a demanda.

O nível de habilidade e experiência do artista também influencia o valor final. Ilustradores iniciantes podem cobrar menos para ganhar experiência e atrair clientes, enquanto profissionais consolidados podem precificar seus trabalhos de forma mais elevada.

Além disso, personalizar os valores de acordo com o tipo de cliente pode ser uma estratégia eficiente. Empresas e agências podem pagar mais pelo mesmo serviço, pois costumam ter orçamentos específicos para ilustração.

Conclusão

Definir quanto cobrar pelos seus desenhos exige uma análise detalhada dos custos, do mercado e da clientela. Estabelecer um valor mínimo para a hora trabalhada é essencial para evitar prejuízos, mas a precificação não deve ser rígida.

Cada trabalho tem suas particularidades, e o preço pode variar conforme a complexidade da arte, o tipo de cliente e o propósito da ilustração. Com um bom planejamento e uma visão estratégica, é possível criar um modelo de precificação sustentável e justo para o artista e para os clientes.

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